sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ser mãe....( já tem no Blog, mas esse texto está mais completo!)

"Tenho insônia de vez em quando, aí levanto, vou à cozinha, vejo o que não está passando na TV, fico sentada na minha cama olhando os livros, leio alguma coisa, escrevo alguma coisa no caderninho só pra depois não encontrar o que escrevi porque meu quarto anda virado pelo avesso porque nunca procuro as coisas no lugar certo. Aí fico pensando em como as coisas seriam "se fossem". Gostaria da amamentação, dos olhinhos fechados, das unhas curtinhas e do meu desespero em não saber como cortá-las, do narizinho sem forma, da cara de joelho, das eructações, das regurgitações, também, da barriguinha grande, de beijar, morder, amassar, do cabelinho caindo na hora do banho, dos curativos no umbigo, das noites não-dormidas - porque hoje dou o maior valor a conseguir dormir um pouco mais.
Gostaria de lamentar que antes podia dormir e passar a noite em paz com o pai, que podia tomar um banho completo, que podia colocar maquiagem de vez em quando, que podia usar meus óculos sem ter quem tirasse a toda hora. Gostaria de chorar o tempo que não teria para passar com meu(s) filho(s), porque faz parte da vida a impressão que temos de não ter tempo para desfrutar de tudo o que quereríamos. Choraria o medo de perder os filhos.
Gostaria da aflição da primeira queda, do primeiro galo, do meu choro de desespero com medo de perder, da primeira farda da escola, de preparar a lancheira, dos joelhos arranhados da queda, gostaria de chorar no primeiro choro sentido deitando no meu colo e pedindo "mainha, não me deixe só aqui", ou "mainha,nunca morra". Gostaria dos palavrões na hora de reclamar com o porco que não ia tomar banho nunca, com as manias irritantes, dos "carões" dizendo que herdara os defeitos do pai. Gostaria de parar certos momentos e ficar guardando a cena para sempre, de querê-lo sempre naquela idade, para que não conhecesse os perigos no mundo, que a responsabilidade de afastar os problemas fosse sempre minha, e de minha vontade. Choraria o medo de perder os filhos.
Angustiaria-me profundamente sobre se aceitaria o conceito de felicidade e se me sentiria sempre absolutamente feliz com a felicidade dele(s). E seria feliz com apenas seu rosto de contentamento. Questionaria sempre se se sentiriam bem com sua ocupação, apoiaria as idéias mais descabidas deles, mesmo com tom de abuso e contrariedade se fosse o caso de aquietarem o desejo de serem contentes com a própria vida.
Choraria o medo de perder os filhos - na convivência, nas quedas, nas viagens, nas dormidas fora de casa, no trabalho, no caminho da escola ou do trabalho de volta pra casa, de casa para o lazer, de mochila nas costas e passagem na mão, choraria o medo de perdê-los para os infortúnios, para a criminalidade, para os acidentes, para o trabalho escravizante, para a escravidão dos vícios. Enxergaria todas as suas faltas, mas nunca permitiria que alguém as apontasse. Nunca permitiria que alguém os atingisse em minha presença. Nunca permitira que se defendessem sozinhos, mesmo que fisicamente fossem maiores que eu mesma, porque por dentro a minha presença sempre os deixaria indefesos e cativos.
E ainda assim me lamentaria o quanto não estaria preparada para ser mãe, entraria em desespero com o medo da separação, estando preparada para a delícia de sentir todas as pequenas dores de amar o que seria meu. Seria uma boa mãe. Seria sim."

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