terça-feira, 6 de setembro de 2011

Um outro de si mesmo "(...) Abraçávamo-nos pelos nossos nomes".

"(...) Abraçávamo-nos pelos nossos nome"

Provavelmente sabemos ou vivenciamos melhor a amizade quando somos crianças. Uma criança amiga de outra são, sobretudo, cúmplices.

Quando crianças, normalmente nosso melhor amigo é um irmão ou um primo, onde os laços sanguíneos são fortalecidos com a amizade.

Na amizade infantil numa simples briguinha os amigos desfazem seus laços, porém, com a mesma rapidez esquecem as divergências, um pergunta ao outro se quer ficar "de bem", enlaçam-se os dedos em sinal de amizade e voltam a brincar.

Quando adultos, chamamos alguém de amigo com muita facilidade, talvez por termos perdido o verdadeiro significado da palavra durante os anos da nossa vida. E não é preciso uma análise muito profunda para saber se é mesmo amizade ou apenas coleguismo. Ainda, uma amizade entre adultos não é tão fácil de ser retomada quanto à das crianças.

Muitos filósofos estudaram a amizade, e a própria palavra "filosofia" vem da amizade com a sabedoria.

Aristóteles definiu o amigo como "um alguém que é nós mesmos (autós), mas que também não é nós mesmos, que é um outro (állos); um amigo é a comunhão de nossa mesmidade e de nossa diferença numa outra pessoa, num outro eu. Amigos são aqueles que, sendo iguais, são diferentes; mais ainda, amigos são aqueles que, sendo iguais, não podem deixar de ser diferentes. Brinquemos com as palavras: um amigo é o mesmo em outro; o outro em si mesmo; o outro mesmo; mesmo, o outro."

O filósofo francês Montaigne também teve um grande amigo, La Boétie, pelo qual sofreu muito com sua morte, explicando que na amizade entre eles "as almas entrosam-se e se confundem em uma única alma, tão unidas uma à outra que não se distinguem, não se lhes percebendo sequer a linha de demarcação."

Um dos trechos mais bonitos dos seus Ensaios é quando ele fala de La Boétie no capitulo sobre a amizade: "Se insistirem para que eu diga por que o amava, sinto que o não saberia expressar senão respondendo: porque era ele; porque era eu (...) sentimo-nos tão atraídos um pelo outro, já tão próximos, já tão íntimos que desde então não se virão outros tão íntimos como nós. (...) Abraçávamo-nos pelos nossos nomes".

Nem sempre podemos estar próximos aos amigos como gostaríamos, mas pequenos gestos de atenção e carinho provam que a amizade pode superar a distância, as dificuldades, até mesmo diferenças de língua, raça ou idade.

Não é preciso ter um milhão de amigos, um só nos basta para que sejamos um ao outro, alguém de si mesmo.


texto de Sibele Ligório

Em diferentes palavras eu me encontrei nesse livro junto com alguns amigos...--> Mart Wesner

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